Minha avó era narcisista e a vi morrer como um mártir. Ela participava ativamente da paróquia, se incluía em projetos sociais, ajudava os pobres, mas era a máscara dela para esconder a mente maquiavélica.
Na verdade ela não era tão inteligente, tinha dificuldades na escrita, de entender o mundo a sua volta, uma pessoa bem ignorante, mas extremamente articulada, manipuladora e mentirosa. Na família era nítida a diferenciação do filho dourado com os outros filhos. Ela sempre o colocava como o filho perfeito.
Ela gostava muito de dinheiro. Tudo tinha dinheiro envolvido. Fez os filhos pagarem um plano de saúde e uma previdência privada. Afinal, ela não gostava de trabalhar. Usou e abusou dos filhos como pôde. Abuso financeiro era com ela mesma. Fazia os filhos pagarem as contas da casa dela, mesmo eles não morando mais com ela.
Meu avô morreu cedo, não lembro muito bem dele, mas pelo que contam era o capacho dela. Não podia sequer trocar o canal da TV. Tudo tinha que ser do jeito dela. Fazia tudo o que ela queria e deixava ela praticar os abusos como bem entender. Antes eu o respeitava, mas hoje o vejo como um frouxo, alguém que foi cúmplice dela.
Ela não era muito agressiva fisicamente, mas ardilosa no abuso psicológico. Acabou com a autoestima dos filhos, sugou tudo o que eles tinham. Hoje todos ainda moram de aluguel e ninguém conseguiu a total independência financeira. Vivem na dificuldade. Ninguém conseguiu fazer um curso superior, nem mesmo o dourado, pois foi tão mimado que se achava o tal. Como ele também não estudou, acabou num subemprego como todos os outros.
Minha mãe, um dos bodes, acabou “herdando” o narcisismo. Ela cresceu muito revoltada e quando teve suas filhas acabou descontando todo o abuso que sofreu. Minha irmã e eu apanhamos muito. Desde pequenas éramos o saco de pancadas da minha mãe. Não tinha motivo, o ódio dela era gratuito. A casa era um inferno. Meu pai e ela se agrediam. Cansei de ver a polícia no portão.
Hoje tenho meus filhos, um casal, e tento de todas as maneiras afastá-los da convivência tóxica da minha mãe.
Tenho muito medo dela agredir ou abusar de um deles.
Eu sei que ela foi uma vítima de abuso narcisista e culpo minha avó por isso. Mas também sei que minha mãe teve uma escolha porque assim como ela, eu também fui uma vítima de abuso e preferi não reproduzir nos meus filhos o que sofri.
Por isso, por mais que vocês escutem que alguém sofreu abuso e é um “pobre coitado”, lembrem-se que há muitos outros que passaram pela mesma situação e nem por isso viraram uns monstros.
A crueldade da minha mãe foi uma ESCOLHA DELA. Por isso, hoje eu quero distância dela e dos macacos voadores que insistem em dizer que ela foi uma coitada e que merece ser tratada com respeito. Acho que respeito quem merece sou eu e vou me respeitar e manter ela longe de mim.