Eu sou a primeira de três filhas. Sou fruto de um relacionamento que minha mãe teve, ainda muito jovem. Ela engravidou do namorado, que segundo ela, não quis assumir a paternidade. Ela conta que sou filha de um estupro. Nunca conheci o meu pai. Hoje, ele é falecido.
Vivi na casa dos meus avôs até os meus 6 anos de idade. Era uma criança feliz, mesmo sem ter a presença de um pai. Meu avô fazia esse papel muito bem. Era um homem amável e gentil, que me amava incondicionalmente. Por várias vezes, minha mãe me abandonou com os meus avôs. Ela chegou a morar em outra cidade, e não me levou com ela.
Quando completei 6 anos, ela se casou, foi morar em outra cidade e depois resolveu ir me buscar. O esposo dela assumiu a minha paternidade e me registrou como filha dele.
Só que eu paguei um preço alto demais por isso. Ele é um homem extremamente violento. Vivi agressões físicas violentas, abuso sexual e psicológico por muitos anos. Sofri muito. Minha mãe deu carta branca para ele fazer tudo o que ele quisesse comigo.
Na infância, fui muito negligenciada. Vivia doente, cheia de vermes e com os dentes cariados. Sempre estava com piolhos.
Levava inúmeras surras de cinto, chinelo de pneu e colher de pau. Ficava ajoelhada no chão com os braços abertos, como crucificada, por horas, muitas vezes de madrugada. O meu padrasto me acordava no meio da noite para me bater e castigar. Tudo era motivo para a violência física. Se não houvesse motivo, ele criava um.
Sobre violência sexual, não houve um estupro, pois eles queriam que tudo ocorresse de forma consensual, e eu nunca consenti. Porém, aconteceram coisas, que não deveriam ter ocorrido.
Quando eu tinha 11 anos, acordei com o meu padrasto me alisando e beijando a minha boca. Nunca havia beijado a boca de ninguém... Fiquei desesperada e implorei para que ele parasse. E ele parou. Falou apenas que eu já estava virando uma mocinha e que eu precisava aprender a beijar na boca.
Quando eu completei 13 anos e comecei a menstruar, ele e a minha mãe ficavam, insistentemente, por várias vezes, tentando me convencer da necessidade de ver ele nu. Falavam que eu precisava saber como é um homem nu, pois havia me tornado uma mocinha. Nessas ocasiões eu ficava desesperada e falava que não queria. Tudo isso acontecia sempre depois deles fazerem sexo.
Quando adulta, questionei a minha mãe à respeito e a resposta dela foi: "Nós nunca obrigamos você."
Aos 20 anos, fui espancada pela última vez. Depois disso, fui morar fora.
Na vida adulta, passei muitos anos morando fora, mas depois de formada, voltei a morar na casa deles. Ela me convenceu a voltar, alegando que sentia muito a minha falta e que o esposo dela havia mudado.
Depois que eu voltei, precisei passar por uma grande cirurgia. Uma semana após a minha cirurgia, ele arrumou uma super confusão comigo e eu tive que sair de casa. Na ocasião, ele fez menção de me agredir fisicamente, mas eu peitei ele, o ameaçando de depois ir para a delegacia, e ele parou. Estava operada, cheia de pontos e, sozinha, fiz a minha mudança. Sabe o que a minha mãe fez para me ajudar? Arrumou caixas, para que eu pudesse empacotar todas as minhas coisas.
Depois disso, me casei. Ela veio ao meu casamento e, obviamente, trouxe o amado esposo dela junto. Eles são mestres em sabotar a minha felicidade. Foram apenas para o casamento civil. Depois foram embora. E, na comemoração, todos me perguntavam: O que aconteceu? Onde estão os seus pais?
Mas, felizmente, o mundo dá muitas voltas!A vida foi muito boa para mim. Formei a minha familia. Tenho um esposo maravilhoso e filhos lindos!
Hoje, após inúmeras confusões e humilhações, consegui iniciar o contato zero. Com o meu padrasto, já estava há alguns anos. Com a minha mãe, comecei neste ano, depois de mais uma confusão que ela armou. Dessa vez, na minha casa, na frente do meu filho pequeno. Foi desrespeitosa comigo, com o meu esposo e filhos. Achei que foi a gota d'água e resolvi dar um basta.
Sobre a violência física e moral que eu sofri, antigamente, minha mãe dizia não saber o que acontecia... Não sabia o que acontecia dentro da própria casa??? Hoje, sabendo que esse papo não cola mais, a resposta dela, ao ser questionada sobre ela ter permitido tanta violência contra mim foi: "Eu não tinha pra onde ir.". Essa resposta era o que faltava para minha ficha cair de vez. Então, ela permitiu todos os abusos contra mim, para que ela tivesse onde morar? Fui "vendida" pela minha mãe.
E assim sigo a minha vida, tentando superar todos os abusos vividos e buscando ser uma pessoa melhor. Hoje escrevo a minha estória. Sou senhora do meu destino.
Finalizando, gostaria de colocar aqui o perfil familiar de onde eu vim (o que é mostrado para a sociedade):
- Pai: homem honrado, honesto e trabalhador. Não tem vícios! Não fuma, bebe, ou usa drogas. Não segue nenhuma religião. É anti-social. Não tem amigos, nem participa de reuniões social ou familiar.
- Mãe: mulher honrada, honesta e trabalhadora. Não tem vícios! Não fuma, não bebe, não usa drogas. É super religiosa. Faz trabalho voluntário e participa ativamente nos eventos religiosos. É protetota e defensora dos animais. É super popular, super simpática! Tem muitas amigas e adora festas! É uma mãe exemplar. Ama a sua família incondicionalmente. Faz tudo pelas filhas.
Meu recado para a sociedade:
"Nada é o que parece ser.
O mar de longe é azul, de perto é verde, por dentro, transparente. Aparentemente, tudo é diferente do que realmente é. Eis então o segredo para não julgar: em vez de olhar o mar de longe, mergulhe!"
Ninguém sabe, nem nunca soube sobre o que ocorreu e o que ocorre na família Doriana perfeita. Os podres, toda a violência, ficou muito bem escondida embaixo do tapete.
Meu recado para as vítimas:
Se amem, acima de qualquer coisa! Sejam fortes!
Meu recado para os abusadores:
ACORDAMOS!