Aqui começo minha história.
Sempre questionei minha mãe sobre a relação tóxica dela com a minha avó. Minha mãe criou os três sobrinhos de uma irmã que faleceu, cuidou da casa desde muito nova, teve a carreira reiteradamente sabotada, era constantemente solicitada a cuidar integralmente da vida e da saúde de minha avó. Minha mãe pouco falava da infância, só conseguia dizer que fora muito sofrida por culpa de um pai agressivo que ela não se lembrava direito.
Desde criança eu me sentia uma neta especial, era visível a preferência de minha avó por mim em detrimento dos outros netos, carinho, presentes, viagens, pra mim tudo, para os outros nada.
Já com a minha mãe era como uma gangorra, um jogo em que horas ela era a filha especial e horas era a negligente culpada de sua infelicidade.
Fui crescendo e aquela relação me incomodava demais, ao mesmo tempo em que amava minha avó me ressentia por ver o quanto ela fazia minha mãe chorar. Tinha ciúmes de todos e com todos, tinha inveja, se comparava, queria ter mais do que nós, queria mandar em tudo, controlar tudo, quando não conseguia explodia, prendia.
Ela sempre teve problemas de coração e usava de sua doença para chamar a atenção de todos, principalmente de minha mãe, que por ser a filha mulher, parava tudo para cuidar da mãe.
Enquanto isso os dois filhos homens se mostravam folgados, sem caráter, abandonaram e maltratam mulheres e filhos, mas para eles sempre havia perdão. A mão na cabeça dos bebês da mamãe era evidente.
Eu fui crescendo e ao longo da nossa vida nos mudamos duas vezes de estado. Isso era sempre a morte para minha avó. Ela dizia que ia morrer, que ia se matar, que minha mãe estava a abandonando. E lá estava eu, vendo minha mãe sofrer novamente.
Ela sempre ficava de fato doente, ia parar no hospital, internada e lá ia minha mãe atrás dela, pegava o primeiro voo pra correr atrás dela.
Até então aquilo me incomodava muito mas eu achava que era só uma personalidade difícil, que ela tinha muito ciúme, que era muito apegada.
Ela me tratava com muito amor, com muito chamego.
Eis que tenho 30 anos, tenho um filho de 4 e mais uma vez meus pais precisaram viajar em razão do trabalho do meu pai. Dessa vez para fora do país.
Foi o caos, mais uma vez ela dizendo que ia morrer, que ia se matar, que minha mãe a estava abandonando. Dessa vez eu era já adulta e soube de mais detalhes. Ela ofendia meu pai, minha mãe, dizia-me que eram egoístas, que preferiam o dinheiro a ela.
Eu era a esperança que ela tinha.
Tentou dominar minha vida, minhas escolhas, minha vida, fazia comentários desagradáveis sobre mim, meu corpo, meu marido, minha carreira.
Até que eu decidi visitar meus pais e minha cachorrinha ficou com ela.
A cachorrinha morreu e ela colocou a culpa em mim, eu não devia ter ido, a culpa era Minha, sou horrível e negligente.
Toda essa situação foi a gota d'água. Não aguentei e diante de toda história cortei laços. Não atendo mais suas ligações, não visito, nao quero ve-la.
Minha mãe sofreu, tentou argumentar e nos unir novamente. Chorou ao telefone me dizendo que nunca tivera uma mãe carinhosa com quem pudesse contar mas que se sentia muito culpada por abandona-la. Tinha obrigações.
Agora eu recebo mensagens pavorosas de minha avó. Me chamando de ingrata, de rancorosa, dizendo que estou desprezando ela.
Olho pra trás e lembro de tudo de ruim que ela fez para os outros netos e me sinto mais uma. Quando não me deixei manipular, fui apenas descartada.
Achei a página e me sinto menos culpada porque fiz o certo, estou me preservando, preservando meu filho, minha família.
Queria de alguma forma ajudar minha mãe, mas ela não enxerga, não acha que pode fazer algo, ela não admite a ideia de cortar relações. E enquanto isso sofre. Uma mulher de 50 sofrendo na mão da mãe de 80.
Me deixa triste, como eu queria faze-la enxergar.
Se não posso, como ajudar?