Depoimento anônimo #13

Dores de fins e recomeços e memórias

Sabe aquelas dores lancinantes? A dor de perceber que o bem mais valioso que você achou que possuía – uma família – nunca foi, de fato, uma família feliz e bem estruturada. A dor de sentir-se terrivelmente só. Me passa o cigarro, não, eu não estou desesperada. Não mais do que sempre estive.

Memórias parecem-me facas a cortar-me nesses dias de inverno. Lembranças são terrivelmente dolorosas, a dor da rejeição, do descaso. As lágrimas salgadas que experimento em meu paladar não acalmam um coração machucado. Não é fúria, não é raiva, poderia ser, mas é mais do que tudo dor emocional. A sensação de estar encurralado em sua própria existência.

A dor de saber é profunda como um abismo, pior que isso somente a dor de não saber. Ter um narcisista patológico na família e ver outros familiares apresentarem comportamentos narcisistas não é fácil, é um nó na garganta, um aperto no peito, um querer gritar, querer fugir, querer escapar, mas pra onde se pode ir para escapar do que carregamos por dentro?

Quando estou dilacerado, escrevo. Escrevo para tentar aplacar, aliviar, achar remédio para algo que nem tenho a certeza que possa ser curado, esquecer o que não pode ser esquecido.

Situações limite. Não durmo direito, não como direito, não consigo estudar.
A alegria e a tristeza de ser quem sou. A alegria de ser autêntico, verdadeiro, mas a tristeza de carregar um passado tão cheio de feridas e cicatrizes. O desejo de não ser, não existir, não estar.

Sei que terei que recomeçar, isso em si já é um recomeço. Mas nem todos os recomeços são bonitos, alguns deles são dolorosos. Ainda me sinto encurralado numa vida que nunca desejei, eu nunca quis ter uma mãe narcisista, mas não há nada que eu possa fazer a respeito.

Sinto-me só nesse horizonte chamado existência.

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