Dor imperdoável; O que você faz agora? Os terapeutas devem incentivar pacientes a perdoar?

Por Mark Banschick M.D.

Às vezes coisas ruins são extenuantes para boas pessoas; bem mais do que às vezes.

  • Você é traído por seu melhor amigo que rouba sua esposa.
  • Você tem sido humilhado e espancado por um narcisista alcoólatra por quinze anos.
  • Suas amadas crianças estão sendo colocadas contra você por seu ex-marido ou mulher vingativa.
  • Seu tio lhe abusou sexualmente – e você mantém isso guardado.

Traição vem em muitas formas. A nível global, é dos autores do Holocausto. A nível de comunidade, poderiam ser os assassinos de Columbine ou Newton. Ou a nível pessoal, pode bem ser seu marido ou esposa.

Terapeutas são abordados com essas histórias terríveis o tempo todo. Sabemos que perdão pode ser uma maneira de se libertar da dor. E muitas tradições religiosas veem o perdão como libertador - se não divino. Além disso, sabemos que aceitação pode pôr a traição numa perspectiva maior, e levar uma pessoa a se concentrar no futuro e não no passado.

Em essência, perdoar pode ser curativo.

Mas, uma pessoa não tem direito às suas feridas?

Os terapeutas devem incentivar pacientes a perdoar?

Muitos terapeutas hoje incluem perdoar como parte da terapia. Perdoar acalma. Perdoar permite encerramento. Perdoar lhe deixa seguir em frente. Perdoar pode curar. Mas, às vezes a ferida é muito profunda - ou o paciente é simplesmente desinteressado. O que um terapeuta deve fazer?

Em minha opinião, é destrutível sugerir perdoar como de alguma forma obrigatória em terapia. Instituições religiosas insistiram por séculos em perdoar sem se importar em como tal exigência poderia afetar o ferido. Então, você está machucado ou traído, e agora você está mal e fraco porque você cai no perdão.

Como terapeutas, não queremos nenhuma parte desta dinâmica.

Nem queremos participar em uma agenda grosseira em direção ao perdão a qual infantiliza o paciente por exigir que ele ou ela agrade o terapeuta - ou rebele-se. Esse não é o trabalho que fazemos. Pacientes frequentemente, sem querer, irão tentar nos agradar. Eles vêm com grandes necessidades e trazem bagagem, inclusive a necessidade de proteção de uma figura autoritária. E nós terapeutas somos figuras autoritárias, por mais que desejamos nos distanciar desse papel.

Não é construtivo para um paciente perdoar prematuramente como um caminho para sentir-se um bom paciente. Isso é terapia ruim - como é má religião.

Às vezes o que aconteceu é imperdoável. Alguém assassina sua criança, ou rouba o que você poupou na vida ou abusa repetidamente de inocentes que estão sob seus cuidados – é imperdoável. Você pode escolher livremente perdoar o criminoso, mas isso não é para ser esperado ou incentivado.

Às vezes o crime não é tão severo. Ainda cabe à alma ferida decidir se o perdão é possível. É mais uma decisão pessoal.

Coisas terríveis acontecem com inocentes - e pessoas não tão inocentes. Como terapeutas, somos testemunhas do horror da história. Nosso trabalho é ajudar aqueles em nosso cuidado a se sentirem humanos apesar do seu trauma. Nosso objetivo é permitir nossos pacientes, de algum jeito, a metabolizar sua traição ou ferida sem se tornar uma vítima para sua vitimização. É um projeto que vale a pena.

Outra opção, aceitação:

Há um meio-termo entre o trauma da dor imperdoável e o perdão em larga escala. É o conceito de aceitação. O paciente aprende a aceitar o imperdoável. Ela foi estuprada. Ele perdeu suas economias para um sociopata. Sua melhor amiga fugiu com seu marido. Aceitação é uma chegada para termos com a aspereza aleatória da vida. Se estamos sendo bons ou ruins, às vezes é a nossa vez de se machucar.

Pode ser útil aceitar de modo que você não mais viva no passado com toda a dor. Você ainda pode se enfurecer - ou sentir a ferroada. Você não está deixando, nem é interessante em perdoar ele. Muitos sobreviventes do Holocausto, por exemplo, se beneficiam em serem raivosos. Eles podem aceitar o inaceitável, mas se irritarem no pensamento. Aceitação te permite seguir em frente. Há algum domínio da sua experiência de vítima - e isso pode ser suficiente.

Terapia ruim:

Se um terapeuta incentiva perdoar o imperdoável; eu sugeriria que ele ou ela tenha alguma supervisão. Eles podem ser uma ajuda para embrulhar as reais dores da vida. Ou, o terapeuta pode equivocar um impulso religioso para incentivar perdão, com a responsabilidade profissional de permitir ao paciente sua própria jornada.

Nós não podemos insistir que um paciente esqueça alguém que os tenha feito mal profundamente e para sempre. E certamente não queremos fazer nossos pacientes se sentirem culpados porque eles não podem fazer algo além da força humana (perdoar o imperdoável).

Perdoar ou não perdoar:

Então, como podemos ajudar pessoas que foram injustiçadas de maneira tão ruim? Perdão pode ser parte da linguagem de nosso trabalho terapêutico, ou deve ser banida ao clero?

Nossos pacientes vem para nós presos em um estado infeliz. Isso é evidente. Nosso trabalho é enrolar o mundo de possibilidade emocional, e assistir como uma jornada do paciente evolui dali. Ele nunca pensou que perdoar era uma opção. E, reciprocamente, ela nunca deve ter percebido que ela não é ruim por “acabar perdoando”.

Aqui está o que terapeutas podem fazer:

Bons terapeutas plantam sementes. Esta é uma forma artística. Subitamente reformulamos todo o tempo. Por perguntar questões que prolongam, por permitir espaço para uma livre expressão de raiva e culpa, por co-criar uma matriz de um relacionamento diferente consigo mesmo, nossos pacientes podem começar a pensar e sentir de modo diferente.

É nossa responsabilidade ajudar a provocar uma mudança de paradigmas - mesmo que pequena. Uma dessas reformulações sutis podem ser sugestivas que as escolhas de perdoar ou não são ambas opções humanas para uma injúria.

O paciente continuará daquele ponto.

Traduzido por: Dayane do Nascimento – contato para serviços de tradução: (81) 99557-0901 (chamada e WhatsApp)

Link para o artigo original: Unforgivable Hurt; What Do You Do Now? Should therapists encourage patients to forgive?

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